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segunda-feira, 28 de julho de 2008

Valores de Heróis (parte 7)


Capítulo 5 - Más Notícias


O dia dos testes então terminou, com Will e Christopher exaustos. Impossibilitados de comemorar suas façanhas e ainda nervosos com a missão que lhes estava sendo confiada, só conseguiram pensar em suas camas, e foram embora para casa, onde dormiram um sono profundo.
Christopher teve uma noite tranqüila, ao contrário de Will, que teve um pesadelo assustador, onde toda Olaftown gritava seu nome, pedindo pelo herói que foi embora, enquanto o exército de monstros matava todos os homens, devorava as crianças e estuprava as mulheres do vilarejo. Will via tudo isso de fora, sem saber onde estava.
Ao tomar consciência que se o exército de monstros estava em Olaftown era porque a missão não fora bem sucedida, pulou da cama, acordando assustado, enrolado num lençol encharcado de suor. Olhou pela janela, e viu no horizonte uma luz púrpura, indicando que não tardava muito para o amanhecer.
Levantou-se então da cama e foi até a cozinha, beber um copo de água.
Na cozinha encontrou a velha senhora Brenda, que retirava um enorme pão quente do forno à lenha, e punha a mesa para o desjejum dele e de Christopher.
– Bom dia dona Brenda. – disse Will.
Brenda deu um gritinho assustado, quase deixando o pão cair. Olhou então para Will, ainda com o rosto pálido pelo pesadelo.
– Meu rapaz, o que faz de pé a essa hora da manhã? E essa cara péssima? – disse Brenda.
– Tive um pesadelo, nada demais. Mas por precaução, achei melhor não voltar a dormir.
– Tome seu desjejum então, enquanto me conta esse pesadelo. Sabe, antes de ser governanta de Sir Richard – que este descanse em um bom lugar – quase fui curandeira, como minha mãe. Ainda sei elaborar algumas infusões para curar doenças, e sei interpretar sonhos.

Servindo-se de um enorme pedaço de pão, como se comer fosse aliviar sua preocupação, Will começou então a falar:
– O sonho começou com uma visão da minha casa em Olaftown. Eu a via por dentro, e via meu pai assustado, segurando a porta, enquanto minha mãe chorava num canto, encolhida. Então a porta voou pelos ares, e uma nuvem de poeira ofuscou o que acontecia a meu pai.
– A partir daí, tive uma visão de toda Olaftown vista de cima, e vi monstros atacando! Já espantei uma meia dúzia de goblins e kobolds de nossas terras, mas esses eram monstros perigosos, realmente grandes! Muitos eram bugbears, como o que matei com a ajuda de Christopher e Sir Richard, mas havia uma enorme variedade de criaturas.
– Eles destruíam as casas, matavam os homens e velhos. Alguns dos monstros, os maiores, devoravam as crianças, enquanto os bugbears e orcs estupravam as mulheres. E o que mais me assustou, é que toda a vila, mesmo aqueles que me achavam esquisito e não nutriam por mim nenhum sentimento bom, gritava meu nome. Eram gritos de raiva, de dor, de desespero.

– Quando percebi que toda aquela destruição estava ocorrendo em Olaftown, pensei que a missão havia sido malsucedida, e acordei com um pulo, respirando fundo.
– Agora lhe pergunto dona Brenda, o que pode significar esse sonho? Minha terra natal está em perigo por eu ter ido embora? Era a minha presença que mantinha os monstros afastados de Olaftown? – perguntou Will, mordendo um pedaço do pão.
Dona Brenda então, com um sorriso maternal, encarou Will, baixou os olhos e lhe disse:
– Will, não é preciso ser curandeira ou sábia para interpretar seu sonho. As mudanças que estão ocorrendo em sua vida lhe assustam. Você gostaria de ter notícias de sua vila, gostaria de saber o que aconteceria se ficasse por lá. O único significado de seu sonho Will, é que você está nervoso com o que o destino lhe reserva, e com a importância da primeira aventura em que se mete. Quer um conselho de uma velha? Não olhe para frente como quem olha para trás. Não se arrependa das escolhas que fizer. Deixe que a vida o leve adiante, viva intensamente tudo o que lhe acontecer. Os bons momentos serão boas lembranças quando alcançar a minha idade, e os maus momentos lhe servirão de lição. Mas seu sonho me mostrou uma coisa também Will. A piedade, o amor pelo próximo, a necessidade de ajudar os oprimidos. Você tem os intrínsecos valores de herói, e tenho certeza que essa aventura lhe cairá como uma luva.



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Uma hora depois foi a vez de Christopher acordar e descer para tomar seu desjejum. Surpreendeu-se por encontrar Will já de pé, sentado à mesa com dona Brenda, numa conversa bem animada.
– Bom dia Christopher, dormiu bem? – perguntou Will.
– Sim Will, muito obrigado. E sobre o que conversam? – perguntou Christopher com um sorriso.
– Ah, contávamos um ao outro histórias do passado. Dona Brenda se surpreendeu por saber que um rapaz educado como eu possa ter sido um demônio quando criança!
– Hahaha! Que bom que se deram bem! E quanto ao Conselho? Alguém deu notícias?
– Não, até agora ninguém apareceu à porta, Sir Christopher. – disse Brenda com um sorriso orgulhoso.
– Para você sempre Chris, dona Brenda! Não me chame de Sir de novo! – disse Christopher, enquanto sorria para a governanta.
Nesse momento alguém bate à porta. Will se levanta e vai abrir.
– Pode parar por aí Will, aqui sou eu quem abre a porta! – diz Brenda enquanto corre para ultrapassa-lo.
Brenda então abre a porta. É um garoto com um pergaminho enrolado, que estende este para ela. A velha senhora acaricia a cabeça do menino, tira uma moeda de prata e lhe dá. Ele olha para aquilo, com um sorriso enorme já pensando em como poderá gastar, agradece e sai correndo.
– Acho que chegou a mensagem que esperava do Conselho Chris. – diz Brenda, entregando-lhe o pergaminho.
Christopher desenrola a carta, e a lê em voz alta:
“Caros senhores Will Nimblung e Sir Christopher Jasper, o Conselho de Sábios de Brindembur através desta mensagem lhes faz saber que:
1) Em virtude da longa viagem que farão;
2) Da importância desta para a existência das Cidades Signatárias do Tratado de Vontermont;
3) E da tão recente consagração do senhor Christopher em Cavaleiro Protetor de Brindembur,

O Conselho decidiu que seguirão viagem para a Cidadela de Turin daqui uma semana, para que não haja erros nos preparativos e para que os senhores sejam melhor treinados pela Ordem dos Sete Relâmpagos.
Atenciosamente,

Sábio-Mestre Trentin”
– Ganhamos uma semana de treinamento Will. E com os melhores professores de todo o Tratado! – diz Christopher empolgado.


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A semana de treinamento foi intensa. Os empregados do Conselho de Sábios numa correria enorme organizando a caravana, enquanto Will e Christopher eram treinados e se entrosavam com seus companheiros de viagem, ninguém mais ninguém menos que Os Sete Relâmpagos e a filha de Lorde Lerondin.
No quarto dia dos preparativos, um mensageiro do Regente chega à cidade, entra no prédio do Conselho de Sábios, e não sai mais. No fim da tarde, Chris, Will, Dibrille e cada um dos Sete Relâmpagos recebem uma carta de convocação para uma urgente reunião do Conselho de Sábios na manhã do dia seguinte. Essa convocação a apenas 2 dias da partida deixa os dez novos amigos apreensivos.


~~~


Amanhece o quinto dia antes da partida. Com os primeiros raios de sol, os dez já se encontram na porta do prédio do Conselho. Ninguém fala nada, preferindo não especular sobre o motivo de tão repentina convocação. Quando o sol se encontra completo no céu, as portas do Conselho se abrem, e eles entram.
No centro do salão estão dez cadeiras, uma ao lado da outra. Ao redor das dez cadeiras, encontram-se os Sábios em seus lugares no plenário. Os dez companheiros se sentam com a permissão do Sábio-Mestre.
– Bom dia a todos, e desculpem por tê-los tirado da cama tão cedo, mas as notícias que o mensageiro de Vontermont nos trouxe não são nada agradáveis, e precisamos discutir com vocês, os maiores interessados sobre as mesmas. – disse o Sábio-Mestre.
– Arauto, por favor, leia o conteúdo da mensagem. – ordenou um dos sábios.
“Sua Excelência, o Regente do Tratado de Vontermont Sir Adrian Brightstart, envia ao Conselho de Sábios de Brindembur a seguinte Resolução:
Diante da perigosa situação em que se encontra o Tratado de Vontermont, e da iminente ameaça de guerra, eu, Sir Adrian Brightstart, pelos poderes a mim inerentes como Regente do Tratado de Vontermont, convoco o Conselho de Sábios-Mestres em caráter emergencial, bem como convoco também todas as Ordens de Cavalaria para que se apresentem em Vontermont o mais rápido possível para unir-se às fileiras do Exército Real.
Informo ainda que recebi do atual Regente de Kandahar, o Dragão-Negro Fastrionur, uma oferta de rendição. Após negociações de nossos diplomadas com o Regente, este nos deu 3 semanas para nos render ao poder dos monstros, ou seu exército marchará saindo de Kandahar para atacar Vontermont.
Essa Resolução deve ser cumprida em até três dias após o recebimento do mensageiro.
Sua Excelência, o Regente”.
Os dez companheiros começaram a se entreolhar. Sabiam bem o significado de tal mensagem. O Sábio-Mestre então começou a falar:
– Infelizmente vejo que entenderam a determinação do Regente. Sim, Os Sete Relâmpagos devem partir para Vontermont, assim como eu. Nosso Regente está aflito com a situação do Tratado, e quer toda a ajuda possível, tanto bélica quanto intelectual.
– Entretanto, não posso enviar para uma missão desta importância, ainda que seja secreta aos olhos do Regente, apenas os três jovens que se encontram a minha frente. – dizendo isso, o Sábio-Mestre sorriu para Will, Chris e Dibrille.
– Os Sete Relâmpagos serão divididos, e gostaria de suas opiniões para saber quais seriam as melhores formações.
Ao ouvir isso, os Sete Relâmpagos se levantaram, falando alto, discutindo com o Conselho de Sábios. Nunca na história da Ordem dos Relâmpagos houve a necessidade de dividir seus membros em duas frentes de combate, e todos eles querem ir para Turin ajudar na busca pela Espada de Vaist.
– Calma meus amigos, sei da gravidade desta situação. Sei que o que decidi é arriscado, mas é a única chance que temos. Já sei que quando chegar a Vontermont corro o risco de ser expulso do Conselho de Sábios-Mestres por não acatar completamente uma ordem do Regente, ao não levar à Capital a maior ordem de cavalaria do Tratado em sua plenitude.

– Tentarei expor a nossa situação ao Regente, esperando que ele entenda a impossibilidade de enviar todos os sete para a Capital. Entretanto, todos sabemos que Sir Adrian Brightstart ama o poder, portanto se eu contar a ele sobre a Espada e a profecia, ele a requisitará como forma de ser aclamado pelo povo e tornado herói, para pôr fim aos conclaves de Sábios-Mestres que escolhem os Regentes a cada dois anos e se tornar Rei.
– Pensem comigo. Não há perigo maior em Brindembur do que há em Vontermont. Qual motivo eu teria para dizer a ele que Os Sete Relâmpagos ficaram em Brindembur ao invés de ir servir a seu Regente?
– A única idéia palpável é a de que alguns monstros errantes se encorajaram sabendo do exército e estão atacando as cidades, como ocorreu em Olaftown. Por tal motivo, poderia deixar dois ou quem sabe três Relâmpagos para trás, quando todos nós sabemos que eles estariam com Will, Sir Christopher e Dibrille em busca da Espada de Vaist.
– Essa foi a única solução que me ocorreu desde a chegada desta Resolução. Estou aberto a novas sugestões.

O salão foi então tomado por um silêncio sepulcral. Os Sete Relâmpagos se entreolhavam, cabisbaixos, pois sabiam que a única chance que tinham era a idéia de sábio-mestre.
– Como vêem, não temos outra alternativa. E isto nos leva ao segundo motivo pelo qual os chamei aqui. Precisamos decidir quais dos sete irão comigo para Vontermont e quais seguirão viagem com os três. A única exigência que faço quanto a isso é que Vengard venha comigo, pois como líder dos sete, nada mais lógico que se apresente na Capital.
– Sim, Sua Sapiência, irei para a Capital. E, se me permite opinar, acho que tenho o grupo perfeito para a viagem de Sir Christopher. Vejamos, Will e Sir Christopher são dois homens de armas. Dibrille, uma maga. Lhes falta um clérigo para curar os ferimentos de batalha, pois as Ruínas de Selyn ficam nas Terras Bárbaras, e o combate é certo para eles. Urig, você vai com eles.
– Além disso, precisarão sempre de alguém à sua frente, vigiando o caminho que estarão seguindo para saber os perigos que os aguardam com antecedência, assim, um batedor também lhes será útil. Cecil, você também os acompanhará.
– E por último, temos sim dois homens de armas, mas ainda inexperientes em combate real. São bons, sem dúvida, mas não tiveram muitas oportunidades de participar de lutas de verdade, por isso acho que um guerreiro experiente ajudaria muito. Thogar, vá também com eles. - disse apontando para o anão.
– Acho que este seria o grupo ideal Sua Sapiência, mas sinta-se à vontade para modifica-lo. – disse Vengard.
– Não me oponho, você entende muito mais de combates do que eu Vengard, e sua seleção faz todo o sentido. Então ficamos assim. Will, Sir Christopher, Dibrille, Cecil, Urig e Thogar. Vocês irão até Turin com a caravana. De Turin em diantes, estarão sozinhos até as Ruínas de Selyn.

– E neste ponto, acho que cabe uma explicação histórica. As Ruínas de Selyn são as ruínas da antiga Capital de nosso Reino. Sim, Vontermont era a Capital há muitos anos atrás, mas antes dos Regentes, tivemos um rei louco. E este rei, num acesso megalomaníaco, resolveu ampliar o reino de forma a se tornar imperador, e transferiu a Capital do reino de Vontermont para o meio das Terras Bárbaras. Lá, ele construiu Selyn.
– Desnecessário dizer que apesar dos bárbaros serem inúmeras tribos independentes, para expulsar o mal comum eles se uniram. E destruíram Selyn. Por esse motivo, Turin, antes uma pequena cidade, cresceu, e construiu em torno de si uma muralha. Precisavam de segurança para os refugiados de Selyn que chegavam a cada dia. Hoje Turin vive praticamente isolada do resto das cidades do Tratado, sendo o último porto seguro antes das Terras Bárbaras.

– O Conselho de Sábios-Mestres e os Conselhos de Sábios de cada cidade já existiam nessa época, e os Sábios decidiram que não haveria mais um Rei, para evitar esse tipo de problema no futuro. O Reino alcançava ainda algumas cidades no oeste, mas estas, sem a influência de um Rei, resolveram declarar independência, e hoje não sabemos o que aconteceu a elas. Porém, os sábios das cidades que hoje vocês conhecem, resolveram assinar um Tratado. O Tratado de Vontermont. Por esse tratado, Brindembur, Kandahar, Turin e Vontermont seriam cidades-estados, cada uma com seu Conselho de Sábios que as governaria. Os Sábios-Mestres de cada um desses conselhos formariam o Conselho de Sábios-Mestres, que escolheriam a cada dois anos o novo Regente, entre os cidadãos de bem e destaque das cidades do tratado, e seriam convocados duas vezes por ano para a Capital, onde analisariam o trabalho do Regente, e poderiam também ser convocados em situações de emergência para auxiliar o Regente em suas decisões. Acho que isso já lhes basta para entender porque a Espada de Vaist está nas Ruínas. Ela fazia parte do tesouro real.
– Turin fica a 200km daqui aproximadamente. Mas a viagem durará mais do que o esperado, porque como forma de dificultar um eventual exército bárbaro que queira atacar as cidades do Tratado, nunca foram construídas estradas ligando Turin a qualquer outra cidade, excetuando-se, lógico, as vilas que a abastecem. Daqui a Turin temos pouco mais que uma trilha marcada pela movimentação de uns poucos mercadores.
– Enfim, era isso que tínhamos para tratar com vocês. Peço desculpas pelas más notícias, mas todo trabalho contra o mal requer grandes sacrifícios. Espero que este seja o único que tenhamos que fazer. Agora, voltem para o que vocês têm a fazer. Continuem os treinamentos. Darei ordens para que os preparativos sejam reorganizados de maneira a levar menos pessoas na caravana. Façamos nosso trabalho crianças, porque com o prazo dado pelo dragão-negro, estamos agora correndo contra o tempo. – disse o Sábio-Mestre, com a voz emocionada diante dos problemas.



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terça-feira, 22 de julho de 2008

Valores de Heróis - Apêndice 1


Este é o primeiro mapa do conto Valores de Herói, nele estão as cidades-estado d'O Tratado de Vontermont, e seus arredores.

Estamos colocando esse mapa para que possam se localizar melhor durante todo o conto. Durante o decorrer da história estaremos colocando aqui novos pontos de interesse e se necessário serão feitos novos mapas.

Os Harpistas

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Valores de Héroi (parte 6)


Capítulo 4 - Preparativos (continuação)

Will olha em direção do local onde seu amigo está a prestar o exame de cavaleiro e pensa consigo.

Por qual tipo de prova ele está passando?

Não muito longe dali em uma pequena fortificação...

Então você é Christopher Jasper, aluno e escudeiro do falecido Sir Richard de Pandhein. Ouvi muito sobre você jovem. Eu sou Janus Singraf III. – diz o homem de cabelos longos, brancos como prata que aparenta ter por volta de seus 75 anos, mas mesmo assim robusto como qualquer outro no local do exame.

No momento que o homem termina de falar Christopher se ajoelha sem hesitar. O nome que o senhor havia dito o fez relembrar das antigas histórias que Sir Richard havia lhe contado sobre os Relâmpagos. Janus Singraf III é o último cavaleiro vivo da antiga Ordem dos Relâmpagos.

Janus não entra mais em combates, ele é só o tutor da Ordem por ser o mais velho e mais experiente dentre todos os novos cavaleiros. Ele é sempre consultado antes de um combate e nos últimos anos ele tem testado os novos cavaleiros.

É uma honra conhecer a maior lenda viva de Brindenbur. – diz Christopher ajoelhado. E aparentando um certo nervosismo.

Não fique nervoso jovem, nada tem a temer, eu sou um homem como qualquer outro aqui. – tentando acalmar o futuro cavaleiro.

Sim senhor. Mas não esperava estar frente a frente com o cavaleiro que meu mestre tanto falava. – Christopher tenta se explicar.

Eu e seu mestre fomos grandes amigos, e é por isso que eu resolvi fazer o seu teste de cavaleiro. Espero que esteja preparado.

Christopher se espanta ao ouvir tais palavras. Ele seria testado pelo melhor cavaleiro da cidade, o que o deixou um pouco apreensivo e fez o nervosismo aumentar ainda mais.

Acho que você já ouviu isso, mas tenho de repetir mais uma última vez.

Os cavaleiros existem para manter a ordem e a harmonia do local que eles decidem defender, isso quer dizer que a partir de hoje a sua vida não lhe pertence mais. Você vive agora em função de defender todos os que precisam de você, isso quer dizer que muita das vezes vai ter de sacrificar os seus sonhos para manter a ordem. – diz Janus em voz alta.

Agora, pegue a sua espada aprendiz de cavaleiro, e mostre-me o que aprendeu, orgulhe o seu mestre! – afirma Janus já com sua espada em punho.

Eu vou lutar contra o senhor? – indaga Christopher.

Se acha que não agüento jovem vai se surpreender. – sorri o velho cavaleiro.

Não foi isso que quis dizer... – tenta se explicar o jovem.

Já que não toma uma iniciativa ai vou eu ... Hahhh! – esbraveja o velho cavaleiro que vem atacando o jovem com fulgor.

Christopher se protege do primeiro golpe com a própria espada, mas sente em seu corpo o impacto do ataque que defendeu. Mesmo tendo o defendido é como se tivessem jogado uma rocha sobre o seu corpo.

Parece que foi bem treinado aprendiz de cavaleiro, mas estou apenas começando. Espero que não me desaponte. – sorri Janus.

Christopher fica em silêncio. Ajeita a sua mão na empunhadura da espada e começa a analisar os movimentos do seu adversário, esperando ele dar um movimento em falso. Pois foi assim que seu mestre havia lhe ensinado a lutar contra adversários mais experientes.

Janus fica circulando, o jovem cavaleiro parece a presa de um velho leão, que num piscar de olhos desfere um golpe na diagonal. E nesse mesmo momento Christopher salta para trás, e usa o impulso para iniciar uma seqüencia de ataques sobre o seu oponente, que diz:

É incrível como você luta igual ao seu mestre. – Janus da uma gargalhada enquanto se defende dos golpes que o jovem havia desferido sobre seu corpo.

Mas mesmo assim parece hesitar. Está com medo de me machucar? – pergunta Janus, que muda de postura.

O próximo movimento irá decidir esse combate, mas ainda é cedo dizer quem vai vencer. Ambos estão tão focados no combate que nem percebem o quão impressionante o combate está sendo. – diz o homem trajando a armadura escarlata e prateada, que guiou Chris até a sala.

O silêncio paira no ar, nenhuma palavra é dita. Ambos ficam parados olhando um para o outro como se o tempo não passasse. Todos os movimentos são analisados.

Christopher pensa consigo:

Ele pode ser mais experiente, mas com certeza não tem a mesma flexibilidade que eu. Se eu puder tirar o equilíbrio dele por um instante eu posso ter uma chance.

Christopher então avança com toda a velocidade e ataca a espada do seu adversário. Janus fica surpreendido com tal ataque mas mesmo assim defende sem nenhum problema.

E nesse momento Janus joga todo o seu peso para a sua perna esquerda com intenção de conter o ataque de carga do jovem. O jovem cavaleiro percebendo que ele faria isso ataca com o escudo a perna do seu oponente tirando o seu equilíbrio, e joga com o ombro o seu oponente no chão, que cai sem ao menos perceber o que havia acontecido.

Já no chão e sorrindo o antigo cavaleiro diz: - Eu não esperava por essa garoto. Com certeza você me surpreendeu.

Christopher lhe dá a mão e ajuda o antigo cavaleiro a se levantar. Os dois se olham e sorriem, como se todo aquele embate tivesse terminado, e o olhar de afirmação de Janus já dava o veredito.

Venha comigo meu amigo cavaleiro – diz Janus em tom sereno.

Christopher segue o velho cavaleiro até um pequeno quarto, onde Janus começa a procurar algo dentro de uma gaveta. O quarto era o aposento de Sir Singraf III, que por mais humilde que parecesse guardava algumas relíquias, armas, armaduras e algumas esculturas e quadros, que pelo que parecia eram feitas por ele.

Enquanto Janus procurava, Christopher olhava os quadros, até que se depara com um quadro da antiga Ordem dos Relâmpagos, em um relance vê algo familiar, e nesse mesmo momento Janus o chama a atenção.

Tenho algo para você jovem cavaleiro. Você esta vendo esse medalhão, então, eu gostaria que ficasse com ele. – estendendo a mão bem devagar.

Eu não sei se posso aceitar, eu não fiz nada para merecer isso. – indaga Christopher meio confuso.

Esse medalhão pertencia a um amigo meu, e já não é mais de serventia para mim, acredito que fará bom uso dele. – coloca o medalhão no jovem cavaleiro.

É um medalhão muito bonito. Obrigado.

Ele não é apenas um medalhão normal, mas não cabe a mim dizer o que ele faz, com o tempo vai descobrir jovem.

Nesse momento Janus se coloca entre o jovem e o quadro. Um pouco depois dois homens entram no quarto. Eles eram Sir Vengard Kysten o líder dos Relâmpagos e Paladino da ordem da Luz, ele era o homem da armadura escarlate e prateada que estava assistindo a luta dos dois.

Vengard também é conhecido como o patrulheiro dos céus, pois tem como montaria um Wyvern chamado Grant.

O outro era o Clérigo Urig Henmdar, também um dos relâmpagos de Brindembur e um dos cavaleiros mais respeitados da cidade.

Jovem cavaleiro seus amigos estão te esperando, e nós precisamos conversar com Lord Singraf. – diz o paladino

Deixe-me levar esse jovem até os amigos dele Vengard. – o clérigo coloca a mão no ombro de Christopher e leva o garoto.

Vengard e Janus trocam olhares enquanto os dois saem do quarto.

Janus pega o quadro e leva até a parede perto da janela e o coloca ali, Vengard se senta e começa a questionar.

Me diga porque você decidiu faz o teste desse jovem Lord Singraf?

O que ele tem de tão importante? – pergunta o paladino

Janus se vira e diz.

Se lembra quando disseram que eu era o último dos relâmpagos. Era mentira. – Janus aponta para uma pessoa no quadro que outrora escondia do jovem cavaleiro.

A pessoa que ele aponta no quadro, Sir Richard mestre de Christopher e um dos antigos cavaleiros da Ordem dos Relâmpagos. O quadro retratava os antigos amigos de aventuras de Janus, que agora se sentia mais só com a perda do último amigo de campanhas.

Mas como ele ficou esse tempo todo sem ser notado meu senhor? – questiona o Paladino

Após a nossa última campanha ele decidiu começar a fazer algumas pesquisas, ele não queria deixar de se aventurar, era algo que estava no espírito dele. Então ele mudou o seu sobrenome para Pandhein, a velhice mudou a sua aparência e ninguém iria notar nada em um velho cavaleiro. Ele pegou esse jovem para treinar pois queria passar seus conhecimentos para frente, já que não teve filhos.

E você sabia disso não? – diz o paladino de cabeça abaixada.

Sim eu sabia, e pelo que sei ele tinha descoberto algo de grande importância. Algo que pode fazer diferença no futuro, e por isso testei o jovem cavaleiro. Eu ainda tinha uma última divida a pagar para o meu velho amigo.

Eu entendo meu senhor. – o paladino se levanta e vai em direção do antigo cavaleiro.

Acredito que em breve será a minha vez de ir Vengard.

Espero que esse momento demore muito meu pai. – Vengard abraça o velho cavaleiro.

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terça-feira, 8 de julho de 2008

Valores de Heróis (parte 5)


Capítulo 4 - Preparativos


Derrepente houve silêncio no grande salão, a informação estava sendo inserida... a cabeça de Lord Lerondin já fervilha com planos, estratagemas e esperança renovada. Era uma grande notícia, mas mesmo assim ainda preocupante. A seu ver aquele homem ainda era simplesmente um camponês, como ele poderia liderar a empreitada diante de um inimigo que poderia aniquilar a todos, mas, sabia que a ambição humana e sua vida curta faziam milagres e então decidiu dar-lhe o voto de confiança.

– Pelo que percebi ele ainda não sabe nada sobre sua linhagem não é mesmo Sábio-Mestre? – indagou o Lord Elfo.

– Não, e pretendo que continue assim por um tempo, pelo bem dele e do nosso, ele ainda não está preparado para tal notícia. Quando a hora chegar ele simplesmente saberá! – falou com confiança o Sábio.

– Estou de acordo, então ele irá acompanhar o jovem Christopher não é mesmo, acho que é uma boa escolha, mas gostaria de adicionar mais um membro a essa campanha, uma das melhores magas de minhas terras, minha filha Dibrille, ela será de grande ajuda. – Lord Lerondin afirma.

– Que assim seja caro amigo, sua ajuda será muito bem vinda como sempre, acho que seria apropriado que ela pudesse vir o quanto antes, corremos contra o tempo. – diz Trentin o Sábio-Mestre.

– Ela veio comigo nesta viagem, está junto a minha comitiva, à apresentarei ao grupo amanhã assim que todos estiverem reunidos. Irei informa-la, e se não tiver nenhuma queixa irei explicar tudo a ela, acho sábio que pelo menos ela dentre todos saiba de nosso “Herói” , pode ser de ajuda, e confio que ela não irá expor isso a mais ninguém. – expõe o Alto-Elfo.

– Confiarei em sua escolha Lerondin, façamos assim e que seja a decisão mais acertada. – diz o Sábio-Mestre – Amanhã nós encontraremos, descanse amanhã teremos um longo dia. – referência o amigo e parte para seus afazeres.

O elfo faz o mesmo, caminha para encontrar sua comitiva, já pensando dois passos a frente.


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Longe dali, Christopher guia Will a antiga morada de seu mestre e amigo Sir Richard. O cavalariço não tinha filhos e nem parentes próximos, a tempos já tinha deixado tudo para o jovem Christopher, o rapaz tinha sido o mais próximo de um filho para o cavaleiro, mesmo que nunca tivesse dito isso ao escudeiro, que era órfão, e via Sir Richard de Pandhein não só como mestre, mas como um pai ou irmão mais velho que nunca conhecera.

– Aqui e minha casa Will, será muito estranho ficar aqui sem a presença de Sir Richard, – Christopher fala enquanto olha o cômodo, como se visse o finado amigo em todos os lugares – mas fique a vontade, amanhã conhecerá Os Sete Relâmpagos, eu terei que prestar o exame para me tornar cavaleiro, e pelo visto você também terá que passar por algum treinamento. Será um dia cheio – o aprendiz de cavaleiro vai levando Will a seus aposentos.

– Será que estarei preparado Chris? – pergunta Will interrompendo a trajetória de Chris.

– Amigo, não pense nisso, só trará insegurança, você é capaz, basta saber disso, você já provou isso uma vez – diz Chris enquanto leva uma mão ao braço de Will e com a outra aponta um quarto. – Você ficará aqui, deixe suas coisas e desça para comermos algo. – o escudeiro se vira e desce. – Não poderia escolher escudeiro melhor. – sorri sincero.

Na sala, um pequeno banquete tinha sido armado, feito pelos empregados, que mesmo abalados com o falecimento de seu mestre deram o melhor, sabiam que Christopher também era bondoso e os manteriam na casa como um bom novo mestre.

Os dois descem para comer, já era noite, o burburinho da cidade já tinha diminuído, não falaram muito, já estavam se preparando para o dia seguinte. A levantarem da mesa Christopher leva Will a outro aposento.

– Will aqui ficam algumas armas a armaduras antigas de Sir Richard, gostaria que usasse a que você preferir, acho que meu mestre gostaria que alguém as usasse, e ninguém mais merecedor que você. Eu tenho as minhas, e as armaduras de meu antigo mestre eram muito largas para mim, mas devem caber em você como uma luva. – Christopher vai se retirando – fique a vontade eu já vou me deitar, boa noite.

– Obrigado por tudo Chris... – Will já nem sabia o que dizer, mas aquele gesto o deixará mais confiante. Ficou ali por um bom tempo e depois também se retirou para dormir.


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Já era manhã, do lado de fora ainda havia uma bruma rasteira mas a brisa já era agradável, Christopher descia de seu cômodo, já preparado, deu duas batidas no quarto de Will e desceu o lance de escadas.... o tilintar do metal a cada passada. Era o som de um cavaleiro.

Terminou os degraus, e se virou distraído para entrar na cozinha quando se deparou com uma chapa de metal, deu dois passos para trás, e viu a sua frente outro cavaleiro. Era Will para seu espanto, nunca pensou que as antigas vestes de seu mestre fossem cair tão bem em seu novo companheiro.

– Como estou? – perguntou um sorridente Will.

– Melhor do que eu esperava meu amigo! – disse Chris ainda espantado. – Você conseguiu se vestir sozinho? - indagou.

– Não, a dona Brenda me ajudou, ela disse que já estava acostumada a fazer isso. – se referindo a uma das mais antigas empregadas de Sir Richard. – Você também está impecável Sir Christopher, tenho certeza que seu mestre está orgulhoso de você. – Will repousa a mão no ombro do amigo e segue em direção a porta. – Vamos?

– Claro, no caminho até lá te mostro alguns pontos importantes dos quais não tive tempo de te mostrar. – diz Christopher com a altives de Sir.

Os dois caminham para fora da casa, no cocho um dos empregados dá os toques finais no cavalo de guerra, o animal estava preparado para seu novo dono, em um salto Chris o montou, com um afago e o comando o cavalo vai seguindo em marcha. Will segue logo atrás, espada na bainha e uma fagulha de coragem brotando do peito.

Durante o percurso, Christopher vai mostrando a um atento Will alguns dos pontos de interesse. Da casa dos dois ao Quartel dos Sete Relâmpagos precisavam cruzar a cidade, com isso passam pela Biblioteca Central, local de um dos maiores acervos de todos as cidades-estados, muito de seus livros doados pelos elfos em tempos antigos. Brindenbur era a cidade humana mais próxima do reino dos altos-elfos de Grenoble, e o contato entre as duas civilizações.

Passaram pela feira da cidade, e a guilda de comércio, avistaram novamente Prédio do conselho, já estavam na metade do caminho. Passaram pela milícia da cidade e a arena de jogos. Logo depois avistaram a morada dos Relâmpagos. Era uma pequena fortificação, mas mesmo assim chamava a atenção.

Will engoliu seco, estava a passos de conhecer heróis de verdade, e a seu ver ele ainda era um camponês, mas não parou, já tinha decidido o que queria e não voltaria mais atrás. Quando se deu conta, Christopher já falava com o encarregado do portão, que já se abrira diante deles. Eram aguardados.

Seguiram para a área descampada ao lado do prédio maior, já estavam a sua espera, Os Sete, examinadores e mais algumas pessoas. Christopher saltou do cavalo e o puxou pelo cabresto, Will já o acompanhava de lado, meio perdido, mas ainda firme, ou pelo menos o máximo que suas pernas conseguiam conter. Um deles se aproxima.

Vocês devem ser Christopher Jasper, filho de Trevor Jasper – olhando Chris nos olhos enquanto apertava sua mão. – E você deve ser Will Nimblung não é mesmo? É maior do que eu esperava. – sorri desfazendo o clima tenso, enquanto aperta a mão de Will. – sou Cecil Agnam, Batedor e um dos Sete Relâmpagos, venham, logo serão testados, e relaxem.

O Batedor era alto e esguio, olhos da cor do âmbar, pele clara e cabelo negro, tinha um pequeno cavanhaque bem aparado e as orelhas eram levemente pontiagudas o que o acusava. Era um meio-elfo.

Foram guiados por ele até os outros. Will não mais tão tenso e Chris com o semblante de alguém preparado.

Will admirava tudo, enquanto caminhava lentamente, queria guardar cada lembrança, e nem percebera quando seu companheiro entrou com três d’Os Relâmpagos numa das portas laterais que dava para a casa.

No descampado restaram ele, o Batedor, mas três que pensava serem do famoso grupo, e alguns cavaleiros. Se sentiu meio nu sem o único companheiro, mas foi em direção aos outros.

– Christopher já está prestando o exame não é mesmo? – perguntou Will ao batedor, o único que tinha sido apresentado.

– Sim, ele está com alguns dos nossos, mas não se preocupe com ele... – dizia o batedor antes de ser interrompido pela mão da guerreira ao lado.

– Seu teste começa agora Will Nimblung, sou Helena de Levian uma d’Os Sete Relâmpagos – saca a espada e vai em direção ao camponês. – Defenda-se com puder!

Will nem teve reação, em fração de segundos ela já estava a sua frente, no reflexo de tirar a espada conseguiu desviar o golpe da cavalariça, sorte, mas outro golpe já era desferido, colocou o escudo a frente, não havia técnica, mal conseguiu conter o ataque, tombara, lembrou da luta de Sir Richard como uma lição, e rolou para o lado evitando mais um golpe. Por debaixo do escudo só viu as pernas de sua rival, girou o corpo, dando uma rasteira em sua oponente, lembrara das brincadeiras de quando criança, ela se desequilibrou mas não caiu.... tempo suficiente pra Will levantar novamente. Arma em punho escudo próximo do peito puro instinto, queria sobreviver.... a guerreira já vinha a frente a espada para trás, desferiu um golpe horizontal. Para surpresa Will defendeu, tinha força para tal e uma centelha de esperança, mas Helena usou essa força para girar seu próprio corpo e acertar uma cotovelada no rosto do pretenso guerreiro.

– Pare Lady Helena! – um dos outros que assistia ordena. – ele está mais do que apto você já viu isso. – disse o cavaleiro.

– Mas, Aaron, ainda nem começamos. – range a guerreira

– Como sempre esquentada não é mesmo – sorri Cecil

– Deve ser a joviedade da menina – o anão em trajes de batalha continua.

Aaron, o cavaleiro que interrompeu o embate se aproximava, era robusto e estava coberto por uma armadura, a espada nas costas, grande de mais para ser levada na cintura, tinha cabelos loiros e curtos, olhos da cor do céu limpo. – Tem velocidade, um pouco de sorte e criatividade, está de parabéns Will Nimblung, ainda é um pouco bruto, mas podemos refinar isso.

Will limpa com a mão o sangue que sai pela boca.... um ferimento leve para quem pretendia ingressar em uma aventura, e o olha com glória, não sabia como, mas tinha conseguido, acabara de dar mais um passo em direção a seus sonhos.


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